My Eco Dolls — and the Eternal Question of Pricing Handmade Goods

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Ando a preparar a minha participação no Artists Open Studios em Whanganui e tenho cabeça (e as mãos) cheia de bonecas. De bonecas e de sentimentos algo contraditórios em relação a esta actividade de fazer bonecas para vender.

Adoro estas bonecas. Chamo-lhes “eco dolls” porque são feitas com materiais naturais e quase todos os tecidos são reciclados. Uso panos antigos, algodões vintage, fazendas de caxemira, enchimento em pura lã de merino. Coso-as com dedicação e empenho e esforço-me ao máximo para que fiquem bem feitas. Acabam sempre com uma ou outra pequena imperfeição, mas isso é inerente a qualquer produto feito à mão. Ficam com um tamanho que considero óptimo: são bonecas grandes e com um certo peso, são substanciais. A meu ver, são bonecas com alma.

Mas estas bonecas demoram muito tempo a fazer. Diria quase que demoram demasiado tempo. Demasiado tempo para serem rentáveis, muito sinceramente. E aqui entramos no complicado assunto de definir o valor monetário de um objecto feito à mão. Sim, há formulas para calcular isto, mas serão realistas? Ou exequíveis? Tudo depende do mercado a que o produto se destine. Já vi bonecas deste género serem vendidas por $30, $100, $300, $1000. Eu própria ainda não consegui definir um preço para as minhas com o qual me sinta confortável.

Enfim. Este assunto daria para muitas horas de discussão e eu hoje não me sinto particularmente eloquente. É um tema delicado, que toca em questões complexas: questões sociais, económicas, feministas, históricas. Hoje fico-me por aqui, mas sei que este assunto continuará a ocupar a minha mente. Como sempre, os vossos comentários são muito bem-vindos!

***

I’m going to take part in Whanganui’s Artists Open Studios and my mind (and my hands) has been occupied with dolls. With dolls and with some mixed feelings about making dolls to sell.

I love these dolls. I call them “eco dolls” because they’re made with natural materials, most of them upcycled. I use old textiles, vintage cottons, cashmere fabrics and merino wool stuffing. I stitch them with care and I don’t cut corners. They inevitably end up with some minor imperfections but that’s all part of a handmade product. I love that they’re big dolls, with some weight to them — they feel substancial. As I see them, they’re dolls with soul.

But these dolls take so long to make. I’d go so far as to say that they take almost too long. Too long to be profitable, anyway. And here we enter the very sticky subject of pricing handmade goods. Yes, there are formulas out there for this, but are they realistic? Or even doable? It all depends on one’s target audience. I’ve seen handmade dolls being sold for $30, $100, $300, $1000. I personally have yet to come up with a price that makes me feel comfortable.

Oh well. This is one of those subjects that we could discuss for hours on end and I’m not feeling very articulate today. It’s a delicate theme that deals with so many complex questions: social, economic, feminist and historic ones. I’ll going to end this post now but I know this whole subject will continue to occupy my thoughts. As always, your comments are very welcome!

13 thoughts on “My Eco Dolls — and the Eternal Question of Pricing Handmade Goods

  1. mónica simas albuquerque says:

    concha, olá =) bom dia por aqui 😉
    adorei o post.. estas bonecas são especiais e a forma como as faz nascer, os materiais que utiliza..
    boa sorte para a sua participação na artists open stidios ❤
    enviei duas mensagens para o Fb relativamente a uma encomenda há já uns bons meses.. se conseguir espreite. uma para o seu outra para a do saídos =)
    grande beijinho para si e para os míudos ❤
    mónica

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  2. Soniay King says:

    Ola Concha,

    Eu conheço uma menina a fazer bonecas bem diferentes das suas, mas na minha modesta opiniao igualmente bonitas. Pode ver do que falo no facebook em little matilda atelier:

    https://www.facebook.com/littlematildaatelier/

    Cada uma das bonecas pode ser personalizada e demora entre 4 a 5 semanas e custam cerca de 250 libras. Nao me parece muito pelo trabalhão que devem dar, e sobretudo pensando que pode ser um trabalho personalizado, mas confesso que pagar valores muito acima disto por uma boneca também me parece um pouco exagerado. Claro que falo de uma economia que conheço (UK) e não tenho a certeza se este tipo de preços fazem sentido em Portugal, por exemplo.

    Fica a dica!

    Sonia

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  3. Inês Cravador says:

    Bom dia Constança,
    Em primeiro lugar parabéns por tão lindas bonecas! São de facto muito apetecíveis, mesmo adulta adoraria brincar com uma ;)!
    Percebo perfeitamente o dilema de colocar um preço naquilo que fazemos com as nossas mãos e que como dizes, leva “demasiado” tempo para ser rentável. Eu tenho feito vários bonecos em tricot para oferecer a filhos de amigos e a reacção é sempre óptima e quase invariavelmente acompanhada da frase “podias fazer para vender!”. É verdade, poder podia. Mas o preço que as pessoas estariam à espera de pagar por um brinquedo relativamente simples vs o tempo que leva a executar é desmotivante. E eu entendo que é de facto um investimento grande comprar objectos “feitos à mão”. Embora valorize imenso o trabalho, o tempo e a dedicação por detrás de cada peça, eu própria me deparo com a dificuldade de por vezes fazer este tipo de investimentos.
    Muito boa sorte para a tua participação no Artists Open Studio!

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  4. Anita says:

    Olá
    as bonecas são linda, vê-se que são feitas com muito amor. Para se tornar rentável, relamente é uma questão a considerar, porque estas coisas demoram sempre muito tempo e não há preço para tal.
    Beijinho

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  5. Eunice Sousa says:

    Olá Constança!
    Estava ansiosa que tocasses neste assunto! E como concordo que este tema dá para muita discussão deixo-te o meu comentário como partilha e também como incentivo para outros posts, noutros dias em que te sintas mais eloquente, ou quem sabe num vídeo ou podcast! Tenho feito alguns produtos handmade e peças de arte por encomenda para algumas pessoas amigas. Queria fazê-lo de forma mais generalista mas, mais do que a originalidade ou a qualidade dos mesmos, o que me leva o esforço mental é este tema. Fazendo uma pausa e pensando por exemplo nos meus quadros, eu posso fazer uma aguarela muito mais rápido do que um óleo que pode demorar um mês a ficar completo (fora o tempo de secagem) e implica uma bomba de diferentes materiais e fases de trabalho… Mas uma aguarela exige uma concentração inigualável porque tem de ser trabalhada muito rapidamente e não há margem para erro. Aqui o tempo não pode ser a medida de referência! Mas no caso de outros produtos handmande que tenho feito é precisamente o tempo que levam a fazer que tem de estar em primeiro lugar. Como avaliar coisas tão diferentes?
    Eu consigo imaginar o tempo, o empenho na procura de materiais de qualidade e o trabalho criativo que envolvem as tuas bonecas, e não consigo ver uma a ser vendida por menos de 200-250 euros… por mais que me custe que, dessa forma, eu mesma não tenha possibilidade de comprar uma. Gabo-as a toda a gente. Mas sei que há pessoas que podem e que o farão, não tenho dúvidas. Segue-se a nova questão que é como chegar a elas…
    Gostava de saber se conheces artigos, bons posts ou outras referências acerca deste assunto. Essas fórmulas de que falas, há sempre algo que falta, mas qual achas mais próxima da realidade? Já procurei e encontrei muita coisa… e muito diferente. Ficamos sempre com uma dose de sentimento associado e é difícil ser unicamente racional (e acho que neste caso nem o devemos ser completamente) pelo que me sinto sempre algo impotente face ao que devo ou não ter em conta.

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  6. Teresa says:

    A boneca ficou linda. Para mim representa uma esperança de quem insiste em remar contra a maré em que tudo tem um preço mas nada tem valor.
    Bjs

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  7. Carla Silva says:

    Olá, Constança
    Penso nesta questão muitas vezes, porque o que sei fazer, a minha área de formação técnica, também passa por trabalhar manualmente e de forma demorada.
    Penso que um ponto fundamental é o facto de vivermos numa sociedade que se move a um ritmo frenético, que trata tudo – até as pessoas, por vezes – como sendo descartável. É por vivermos assim, na minha opinião, que dizemos “uma boneca/um par de calças/um par de sapatos/etc. a custar 200 ou 300€ é demais para as minhas possibilidades”. E se pensarmos que hoje se vive com 500 ou 600€, de facto é demais. Mas provavelmente os nossos filhos não precisam de dezenas de brinquedos diferentes, só porque custam 2€. Nem nós precisamos de dúzias de mudas de roupa diferentes, só porque as calças estão a 10€. Investir numa boa peça de roupa que dure anos e anos a fio, como investir num brinquedo ou numa boneca de qualidade que seja marcante para um filho, pode parecer caro e insustentável, mas se fizermos as contas ao euro e meio que gastamos aqui e aos cinco euros que gastamos ali, percebemos que na maior parte dos casos afinal até podíamos ter feito diferente. E melhor. Eu, por exemplo, preciso de uns sapatos novos há muito tempo; mas quando percebi que ia ter essa necessidade, preparei-me e optei por esperar até ter dinheiro e comprar uns bons, em vez de comprar uns fracos, feitos por pessoas que estão a ser exploradas, e que vão degradar-se rapidamente e obrigar-me a mais uma substituição à pressa. Claro que nem sempre é possível fazer isto, esperar e pôr dinheiro de parte. Mas muitas, muitas vezes seria, se não se associasse o ter em quantidade ao ter em qualidade. Creio que por vezes ter um só brinquedo mas que seja lindo, desde o modo como foi feito às possibilidades da imaginação, vale mais do que cem dos outros todos juntos.
    Continua a fazer bonecas, são lindas 🙂

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  8. Cristina says:

    É um tema bastante complexo. As tabelas de cálculo existentes podem tentar ser justas
    mas não servem o propósito, porque não satisfazem em todos os quadrantes. Há peças que não têm preço, pelo grau de exigência, pelo pormenor, por tantas e tantas coisas que quem está atento, entende.
    Mas existe outro factor que considero indissociável de tudo isto: o prazer de saber que um trabalho nosso viverá nas mãos de outra pessoa. Essa satisfação só por si não pode bastar mas ajuda bastante no momento de nos separarmos de uma peça. Por isso continuo.
    Aproveito para desejar o maior sucesso na participação no Artists Open Studios.
    Beijinhos.
    Cristina

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  9. Diana Bettencourt says:

    Ola Constança, a minha irma que vive em Londres contou-me que no bairro de Brixton ha um café cada pessoa paga o que quiser. Imagino que deve haver de tudo, desde quem n possa mesmo pagar, a quem seja forreta, mas acredito que a maioria dos cliente pague o justo valor em relaçao à qualidade dos produtos e serviço (com base noutros lugares que frequentem, imagino eu…). Uma sugestao: experimente fazer uma venda de 1 boneca onde os clientes propoem o preço. O produto ficaria sujeito a proposiçoes de preços durante uma semana, por exemplo. No final da semana, poderia ver que valores eram oferecidos e avaliar as possibilidades desse mercado!!! Se os valores forem muito baixos, a venda seria anulada. Se os valores fossem correctos, entao haveria venda possivel. Em todo o caso, as suas bonecas sao muito bonitas!!! Parabéns!!

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